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quinta-feira, 4 de março de 2010

Dunga: prós e contras, mais de três anos depois

E o Dunga, hein? Ninguém mais se lembra daquele sujeito que há três anos e meio era apenas o ex-volante da seleção, mal preparado, comentarista de capacidade discutível, que não poderia ser o técnico nem mesmo do time do nosso condomínio. Carlos Caetano Bledorn Verri estará no comando da seleção brasileira na Copa do Mundo que se inicia daqui 100 dias na África do Sul.

Claro que Dunga não se tornou um treinador brilhante de 2006 para cá. Pelo contrário. Mostrou falhas um tanto graves para um treinador com um cargo como o seu -como, por exemplo, ser incapaz de reverter uma situação desfavorável em uma partida. Podemos dizer que ainda é um treinador aprendiz numa comissão técnica pouco experiente, que tem Jorginho como seu auxiliar. Mas está completando um ciclo de quatro anos no comando da seleção depois de passar por uma Copa América, uma fase eliminatória de Copa do Mundo e uma Olimpíada. Qualquer um faria isso? Certamente não. Existem diversos exemplos de treinadores que não conseguiram -como Alfio Basile na Argentina, por exemplo. E mesmo a atual gestão dos vizinhos, de Diego Armando Maradona, mostra que não é tão simples tocar uma seleção nacional de talento.

Evidente que nada disso será lembrado se Dunga não conquistar o título mundial daqui pouco mais de quatro meses. Mas façamos uma análise fria do momento do técnico da seleção nacional. Os resultados mostram que ele tem as suas virtudes. Os grandes acertos dele, até este momento, são: ter formado um grupo coeso de jogadores e ter se mantido distante dos pedidos da torcida e da mídia. Assim, formou uma base sólida e coerente daquele que imagina ser o time ideal em sua concepção de jogo. Acredito que seja algo para ser exaltado. Lembrem-se do fiasco do “quarteto fantástico” (Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano) na última Copa, criado pela mídia e aplicado por Carlos Alberto Parreira mesmo contra as suas convicções.

A base do time é alicerçada num 4-4-2 que pode variar para um 4-5-1 quando um dos meias se adianta e faz o papel de segundo atacante (no caso, Robinho). Júlio César no gol, Maicon na lateral direita, Lúcio e Juan na zaga. Gilberto Silva e Felipe Melo como meias defensivos. Mais à frente, pela direita, Ramires ou Elano, Kaká mais centralizado, Robinho na esquerda e Luís Fabiano no ataque. Como este esquema tem perdurado, com a base de jogadores sendo mantida, os jogadores tem uma melhor ideia do que fazer em campo.

Há problemas? Claro que sim. Principalmente no grupo de jogadores. E as convicções de Dunga são tão fortes que não há um plano B. Por exemplo, não há um plano B para a meia ofensiva, caso Kaká fique fora de combate. Não parece ser o caso do esforçado Júlio Batista, por exemplo. E, ao que tudo indica, Ronaldinho Gaúcho, mesmo jogando bem no Milan, não parece fazer parte dos planos de Dunga. Da mesma forma, Diego, Alex, entre tantos outros, também não. Outro foco de dúvidas é a lateral esquerda. Difícil achar alguém que esteja jogando bem na posição. Os últimos disponíveis testados pelo treinador -André Santos, Michel Bastos e Gilberto- não estão jogando na posição. Talvez Kléber (Internacional)... Mas foi o mesmo Kléber que foi mal até parar de ser convocado -e reencontrou o bom futebol longe da seleção.

O último teste, contra a Irlanda, na última terça (2) foi mais um passo de Dunga no norte que tem sido tomado por ele nos últimos anos. Sem grandes surpresas. Daniel Alves se consolidou como a principal alternativa para a meia direita, podendo fazer com que Elano ou Ramires vejam a Copa pela televisão. Mas é difícil crer que Dunga, o homem coerência, lance mão de seu lateral direito reserva numa posição em que não é a dele e que acredita ter homens de confiança lá. Grafite? Também é dificil acreditar que vá ser chamado para a Copa no lugar de Adriano...
Enfim... Cabe a Dunga encontrar os seus 23 jogadores com que acredita ser campeão. A nós resta a vuvuzela -tanto para comemorar a vitória como para estourar os tímpanos do glorioso Dunga caso o resultado seja diferente deste.

Por Marcio Kohara, colunista do blog e do site Trivela.

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