O "De Cara a Cara" de hoje entrevista o técnico Português que faz sucesso na Costa Rica. Guilherme Farinha já foi preparador físico do Belenenses de Portugal, e treinou na Costa Rica Alajuelense e Herediano. Atualmente realiza grande trabalho na equipe do Carmelita.
Nome: Guilherme Adolfo Almeida Farinha
Nasceu: 11/02/1951-58 anos-Lisboa(Portugal)
Clubes que Treinou:
Fanhões-Port(1985-1986),Oliv.
Hospital-Port(1987-1989), Seleção de
Guiné-Bissau(1990-1994),Praiense-Port(1994-1996),Sp. Horta-Port(1995),Cerro Corá-Paraguai(1997-1999
e 2003),Alajuelense-Costa Rica(1999-2001),Casa Pia-Port(2001-2002 e
2003-2005),Viseu-Port(2002-2003),Belenenses(Preparador Físico)-Port(2003),
Sportivo Luqueño-Paraguai(2005),Herediano-Costa
Rica(2005),Loures-Port(2005-2006), Foolad-Irã(2006-2012),CSD
Municipal-Guatemala(2010-2011), Carmelita-Costa Rica(2013
1-Por que não foi jogador de futebol mas sim
técnico? Como conseguiu seu primeiro emprego no futebol?
Eu não fui jogador de futebol de elite mas sempre
joguei futebol dos meus 8 aos 25 anos de idade. O meu primeiro treinador a
nível federado foi o Sr. Mário Lino no Sporting Clube de Portugal, como
aspirante joguei no Grupo Desportivo Cultural e Recreativo "Os
Mouros", tendo como treinador o Sr. Luís Norton de Matos, a competição dos
aspirantes era organizada pela Associação de Futebol de Lisboa. Como senior
joguei no SBC e Woensel e no Best-Voruit da Holanda.
Era jogador dos aspirantes dos "Os Mouros" na
época de 1979/1980 e a Direção do Clube convidou-me para treinar a categoria de
iniciados dos "Os Mouros", aí comecei a minha carreira de Treinador.
2- Através de quem surgiu a proposta da
Seleção de Guiné Bissau e como era o país naquela época, as dificuldades e o
futebol?
Havia vários candidatos para seguirem para a
Guiné-Bissau. Para ser eu o elegido teve que haver a decisão favorável das
seguintes entidades: Federação Portuguesa de Futebol (Dr. João Rodrigues -
Presidente), Direção Geral dos Desportos de Portugal (Prof. Dr. Mirandela da
Costa ), Associação Nacional de Treinadores de Futebol ( Prof. Dr. João Mota -
Presidente) e do Consul da Guiné-Bissau nessa época Major Valentim Loureiro. O
projeto chamava-se " Projeto Juvenil da Guiné-Bissau" a colaboração e
o apoio direto era dado pela DGD de Portugal, a coordenação desse Projeto era
feita pelo Prof. Dr. Carlos Queirós da F.P.F.
Esse Projeto tinha vários objetivos: organizar e
dinamizar o Futebol Juvenil da Guiné-Bissau. Durante esse período que foram 4
anos e meio também fui Treinador de todas as Seleções de Formação da Guiné-Bissau,
participando em Campeonatos do Mundo de Sub-17 e Sub-20, participação nos I
Jogos Desportivos de Língua Portuguesa ganhando na final a Portugal (Sub-16) e
acabei por ser Selecionador Nacional desse país ganhando vários Torneios
Internacionais, ex: Taça Amilcar Cabral e apurando pela 1ª vez a Guiné-Bissau para
uma fase de grupos CAN de África Tunísia/1994. Também participamos nos I Jogos
da Francofonia em Paris com a Seleção Sub-23 conseguindo um honroso 5º lugar.
Saí de Portugal para iniciar este Projeto no dia 1 de Novembro de 1990 e
regressei em Dezembro de 1994.
O País nesse época era um País tranquilo e vivia-se
com extrema segurança, havia muito talento na Guiné-Bissau mas faltava melhorar
as infraestruturas para a prática do Futebol.
3- O que ocasionou sua saída de Guiné Bissau?
Após os Jogos da Francofonia em 1994 e deixe-me dizer
que eu fui para esses Jogos em paris com uma recaída da Febre da Malária e pela
indicação dos médicos guineenses e médicos portugueses e italianos que
trabalhavam na Guiné-Bissau todos me aconselharam o regresso imediato a
Portugal, portanto houve esse parte de saúde e por outro lado o governo de
Portugal decidiu que estava concluído o meu trabalho na Guiné-Bissau que seriam
os Guineenses que teriam que dar continuidade ao Projeto. Graças a Deus
derivado ao trabalho desenvolvido por mim durante todo esse tempo recebi
elogios do governo Português nomeadamente do Ministro da Educação Dr. Couto dos Santos e um Louvor e Mérito do
Presidente da República da Guiné-Bissau.
4-Por
que em Portugal não treinou equipes mais fortes?
Em Portugal não treinei até hoje equipes mais fortes
porque não tenho empresário, porque não entro em lobbies e porque não me vendo.
Mantenho um procedimento de honestidade e seriedade.
5-Como chegou até a América do Sul para
treinar o Cerro Corá do Paraguai e fale de seu grande trabalho nesse clube?
Tinha terminado de salvar o Sporting Club da Horta -
Açores, de uma descida de divisão iminente, após essa época e falo de 1996
regressei a Lisboa. Era Diretor do Departamento de Futebol do Sporting Clube de
Portugal o Sr. Luís Norton de Matos e o Vice-Presidente era o Dr. Simões de
Almeida. Na época de 1997 o SCP assinou um protocolo de colaboração e
cooperação com o Cerro Corá do Paraguai, nessa altura o Clube paraguaio
militava na I Divisão e estava em riscos de descida, o Cerro Corá pediu ao SCP
um treinador do SCP, as duas pessoas acima referidas convidaram-me para seguir
para o Paraguai como Treinador Principal do Cerro Corá, ganhei o Torneio de Clausura
e consegui ser Vice-Campeão no Campeonato Nacional, ganhei o prêmio de
Treinador Revelação outorgado pelo jornal "ABC COLOR".
6- O que falta na América em si possuir mais
treinadores Europeus?
Não há mais Treinadores Europeus nas Américas penso
que por duas razões, já existem treinadores americanos de qualidade e porque os
diretores dos clubes do continente americano não apostam nos treinadores Europeus.
7- Como foi parar no Alajuelense e fale de
sua passagem por lá?
Estava no meu 3º ano do clube Cerro Corá e mataram o
Vice-Presidente do Paraguai, Don Luís Argaña e culparam pela morte o General
Lino Oviedo que era Presidente Honorário do Cerro Corá, tornou-se quase
impossível para o Cerro Corá ter condições de segurança nos seus jogos fora de
casa. O Presidente do Cerro Corá para defender a minha integridade física
convidou-me a regressar ao Sporting Clube de Portugal, eu não quis regressar
porque o trabalho estava a correr muito bem, entretanto o Presidente da Liga
Deportiva Alajuelense da Costa Rica Arq. Rafael Solis Zeledon mostrou interesse
ao Pr. do Cerro Corá em adquirir um jogador do Clube, Carlos Alberto Gonzalez e
o Pr. do Alajuelense também necessitavam de um treinador, o Pr. do Cerro Corá
comunicou ao Pr. do Alajuelense que o treinador do clube Guilherme Farinha
seguiria com o jogador para assinar contrato aproveitando a ocasião para tecer
vários elogios á minha pessoa como Treinador e como Homem. Com franqueza
aceitei o convite do Pr. do Cerro Corá para seguir viajem para o Alajuelense da
Costa Rica, fui contrariado mas fui. Passados onze dias assinei contrato, dia
13 de Maio de 1999 com a LDA da Costa Rica. Como deve compreender não lhe vou
contar toda a história porque seria muito longa, mas conto-lhe o principal e
talvez o mais importante: Saprissa tinha ganho os dois últimos campeonatos ,
quando eu pisei solo Costarricense falei para a Imprensa que estava ali para
ser Campeão Nacional! A equipa de jogadores já estava formada e a equipa
técnica era constituída pelos seguintes elementos: Guilherme Farinha DT e Preparador
Físico, Prof. Mario Alvarado, técnico de estatística e o sr. Alvarez técnico de
guarda-redes, só um aparte, hoje em dia a equipe técnica da LDA é constituída
por 7 elementos. Ganhei o torneio de abertura e o de clausura época 99/2000
Vice-Campeão da Concacaf- Las Vegas e Campeão da Uncaf, nesse ano ganhei o
prêmio de melhor Treinador estrangeiro da Costa Rica. Na época 2000/01 ganhei
de novo o Torneio de Abertura e Clausura, fui Campeão da Uncaf, 2º na Copa
Merconorte, o Clube era o 23º no Ranking Mundial de Clubes, ganhei o prêmio de
Melhor Treinador do Ano e como é compreensível fui Bi-campeão Nacional.
8- Por que não deu continuidade nos trabalhos
com o Sportivo Luqueño e o Herediano?
No caso Sportivo Luqueño o Pr. Ramon Gonzalez Daher
pediu-me para fazer o mesmo trabalho que tinha sido feito no Cerro Corá , ou
seja, apostar numa equipa jovem com jogadores formados no clube, assim o fiz.
Fizemos 7º lugar no Torneio de Abertura, a equipa estava a aprender e a assimilar
todas as informações, métodos e processos de treino. Entretanto havia uma
rádio, rádio Auri-Azul da cidade de Luque que me exigia que fizesse alinhar
alguns jogadores do Clube e tentou comprar-me e como eu não me vendi começaram
a denegrir a minha imagem e a dos meus jogadores e não tive o apoio nem do
Presidente nem da Direção do Clube que devia ter tido, como tal decidi
retirar-me.
De imediato regressei à Costa Rica em passeio e o Pr.
do Herediano convidou-me para assinar contrato. O Pr. Sr. Mhoamed Aquile Ali era
mais patrocinador e preocupava-se mais com a Seleção Nacional do que com o
próprio clube. Pouco antes de me despedir tinha sido entrevistado pela TV e
tinha afirmado que eu seguiria até ao final do Campeonato. Mas no Herediano
havia dois jogadores que tinham muita força que não deviam ter e influenciaram
a decisão do Presidente. Nesse Torneio de Abertura o Herediano esteve durante
muito tempo em 1º lugar e começou a ser prejudicado pela arbitragem, terminando
os jogos com 10 ou 9 jogadores. Ficamos em 3º lugar e o Pr. despediu-me, ainda
hoje estou convicto que se tivesse continuado teria sido Campeão Nacional com o
Herediano.
9- Fale de seu grande trabalho que exerceu no
Irã ora como preparador físico ora como técnico e por quê ficou muito tempo por
lá?
Cheguei ao Irão em janeiro de 2007 e estive 5 épocas
com o intervalo de uma época no Municipal da Guatemala. Como Preparador Físico
revolucionei a metodologia de treino do futebol do Irão. Fui também convidado
para ser Treinador principal do Foolad, por questões politicas tive que voltar
novamente a preparador físico e assessor técnico-tático. Tive uma excelente
relação com todas as pessoas do Irão e consideraram-me um excelente
profissional do futebol. Quiçá um dia voltarei ao futebol do Irã porque ,por
exemplo, ainda hoje tenho convites para regressar.
10- Por que não deu certo
no futebol da Guatemala?
Treinar na Guatemala não é fácil, principalmente
quando se joga fora da capital. Ainda assim tenho que admitir que há muito boas
gentes na Guatemala e deixei bons amigos no País. Quando cheguei ao Municipal
da Guatemala faltavam 15 dias para começar o Campeonato Nacional. Nessa época
2010/11 já o Campeonato era realizado com 2 Torneios Curtos, no 1º Torneio ou
seja o de Abertura, ganhamos o Torneio Regular com 5 pontos de avanço sobre o
2º classificado, no Torneio de Copa tivemos que jogar com o Alto Rendimento
porque nas mesmas datas tínhamos de jogar, jogos relativos ao Torneio da
Concacaf, onde tivemos até á ultima jornada para nos qualificarmos para as
quartas-de-final da competição. Nas meias-finais do Torneio de Abertura
ganhamos com facilidade ao Suchitipequez, fomos para a final com o
Comunicaciones, empatamos o 1º jogo 0-0, empatamos o 2º jogo 2-2 e perdemos por
pênaltis, ao 8º pênalti. Fui Vice-campeão Nacional, regressei a Portugal para
passar o Natal e voltei mais cedo do que estava combinado para continuar o meu
trabalho, na 5ª jornada do Torneio de Clausura fomos jogar com o Comunicaciones
em sua casa, no estádio de "La Pedrera" ganhamos 1-0 e fui despedido.
11-Você já recebeu alguma proposta para
trabalhar no Brasil? Caso tenha recebido, por que não aceitou?
Na época 2012/13 tive vários contatos para ir treinar
para o Brasil, inclusive alguns empresários me diziam que o processo já estava
adiantado e cheguei a pensar que poderia assinar contrato com um clube
brasileiro, nunca disse que não a nenhum convite que tivesse recebido, os
empresários e diretores dos clubes não deram continuidade ás conversações. E
nunca foi por questões monetárias e ainda hoje não sei por que deixaram de
falar. Era um dos países do Mundo onde eu gostaria de trabalhar. Talvez um
dia...
12-Por que na sua carreira sempre trabalhou
como preparador físico e técnico? Como é o seu método de trabalho nessas duas
profissões?
Em alguns casos trabalhei como preparador físico e na
maioria dos casos tenho trabalhado como técnico principal e preparador físico.
Hoje em dia no futebol a metodologia mudou, anos atrás dava importância á
componente preparação física e técnico-táctica, mas de formas separadas, hoje
em dia o futebol moderno é total e global. As componentes físico-técnico-tácticas
trabalham-se em conjunto, estamos no período da "periodização
táctica".
13- Como está o trabalho
no Carmelita?
AD Carmelita assinou contrato comigo para a época
2013/14. É um clube de um pequeno bairro de Alajuela, é um clube que geralmente
está na II Divisão, este ano conseguimos o titulo de Vice-Campeões do Torneio de
Copa ao perdermos por pênaltis com o Saprissa (Campeão Nacional), ficamos em 5º
lugar na classificação geral , nos 66 anos de História do Clube consideram que
conseguimos este ano os melhores resultados desportivos de sempre, considerando-me
o melhor treinador da história do clube. Fomos considerados pela Media como a
equipa que melhor futebol praticou, temos o jogador com o golo mais bonito da
época, e eu estou entre os nomeados para o melhor treinador do ano.
14-Você está há anos no futebol, possui
alguma história engraçada ou inusitada para nos contar?
Como deve compreender comecei a praticar futebol aos 8
anos de idade e sou treinador de futebol há mais de 30 anos. Já trabalhei como
treinador em 4 continentes, é lógico que tenha inúmeras histórias para contar e
é difícil eleger uma porque são de conteúdo muito interessante e para não ser
ingrato com as minhas histórias, prefiro dizer-lhe que sou um Treinador do
Mundo e " My life is a Football Game"!.