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quinta-feira, 10 de abril de 2014

"De Cara a Cara"

Neste mês de Abril nosso entrevistado é o experiente treinador de futebol Márcio Máximo, com passagens pela Seleção de Ilhas Cayman e Tanzânia, Márcio também é o primeiro treinador Brasileiro a trabalhar em uma equipe do Reino Unido, na temporada de 2003/2004 comandou o Livingston da Escócia, deixando a equipe em 3º lugar quando saiu.
Confira a entrevista de Márcio exclusiva para o Blog do Futebol.

Nome: Márcio Máximo Barcellos
Nascimento: 29 de Abril de 1962-51 anos-Rio de Janeiro
Experiência Profissional:
Projeto UFRJ( 1986-1988), Mesquita( 1989), Vasco da Gama (1990), Barra da Tijuca Futebol Clube(1991), Seleção Brasileira-Sub17/Sub20 (1992-1993), Seleção do Catar sub20( 1994), Al-Alhi-Árabia Saudita (1995), Seleção do Rio de Janeiro (1996), Union Berlim-Alemanha(1998), Seleção de Ilhas Cayman(1999-2002), Livingston-Escócia(2003-2004), Instrutor da Associação Brasileira de Treinadores (2005), Seleção da Tanzânia(2006-2010), Democrata-MG (2011-2012), Francana (2013).

“De Cara a Cara”
1-Por não ter jogado futebol profissionalmente, você sentiu dificuldade para entrar no ramo do futebol?
Joguei futebol de salão no meu início, como a maioria dos jogadores atualmente, e me transferi para o campo com 16 anos.
Atuei pelo América e Botafogo, ambos na categoria juvenil,  agora juniores, quando sofri um acidente que me impossibilitou de continuar. Ainda tentei voltar, mas como não recuperei o nível de antes resolvi parar aos 19 anos.
Tendo esta experiência não foi difícil para mim continuar no ramo, afinal eu não era um estranho no ninho.


2- Você havia trabalhado em um projeto da faculdade UFRJ entre 1986 e 1988, como conseguiu uma ascensão rápida indo do Mesquita para o Vasco da Gama?
Na verdade fui criado dentro do Botafogo, na beira do campo, com todos aqueles craques da época, no final (anos 70 e 80), como Jairzinho, Roberto, Paulo César Caju, Afonsinho, Carlos Roberto, Humberto Redes (que acabou sendo quem me deu a primeira chance no futebol), Ferreti (que me levou para trabalhar no Mesquita onde ele era o treinador) entre outros.
3-Márcio, no Vasco você pertencia a equipe da Análise Técnico Tática, você poderia explicar como funciona esse trabalho no futebol e se houve muita mudança com o passar dos anos?
Através do contato com o supervisor do Vasco, na época Isaias Tinoco que contatou o grupo da UFRJ para fazer este trabalho.
Era basicamente o que se faz hoje, somente sem o suporte tecnológico que existe atualmente.
Nos ajudou muito na nossa formação como treinadores, porque analisávamos os adversários detalhadamente.
O Vasco foi campeão naquele ano.

4-Após o trabalho no Barra da Tijuca você foi a Seleção Brasileira, fale sobre seu trabalho na base da seleção, você acredita que ainda deve ocorrer alguma mudança nas categorias de base do Brasil?
Em 1992 não havia um Torneio Nacional sub 17, o que dificultava o trabalho. Percorríamos o Brasil vendo pequenos torneios e contando com a ajuda de olheiros como Antoninho. Nosso objetivo maior era descobrir talentos para o time principal e não somente ganhar torneios.
Ronaldo Fenômeno, Alex, Fabio do Santos, Leonardo Inácio e Marco Aurélio foram alguns deles.

5-Você chegou ao Catar em 1994, em uma época com poucos atrativos no país que estava em crescimento, fale de sua ida para lá, o trabalho na seleção, a vida no país e o porquê de sua saída?
Fui ao Catar em 1994 como auxiliar do sub-20 da Seleção com Humberto Redes como treinador.
Aprendi muito porque o país na época era muito fechado e nos reuníamos constantemente com treinadores de várias nacionalidades.
Justamente por não haver muitos atrativos nos concentrávamos totalmente no futebol, e isso nos ajudava a crescer. Disputamos uma Copa da Ásia em que obtivemos a melhor colocação nos últimos 14 anos.
Saímos porque não aceitaram os termos de renovação do Professor Humberto, e eu como seu auxiliar o acompanhei.
6-Como foi seu trabalho na Arábia Saudita?
Aliás este foi meu último trabalho como auxiliar técnico (em 1995) depois me tornei o treinador principal. Trabalhei com Luís Antônio Zaluar que fez um bom trabalho, mas na metade do Campeonato teve divergências com a diretoria e não renovou.
7-Por que no ano de 1997 você não trabalhou no futebol, e na temporada de 1998 você atuou em um projeto com o Union Berlim, fale desse projeto e você chegou a treinar esta equipe?
Estava com um projeto juntamente com meu sócio Neider dos Santos em um clube do Rio. Tive algumas propostas, mas nenhuma interessante o suficiente para deixar o Brasil e o projeto. Foi quando no ano seguinte surgiu a possibilidade deste intercâmbio com o clube alemão usando as dependências do nosso clube no Brasil como teste para jogadores brasileiros. Três jogadores foram para a Alemanha já pré-selecionados na época e inclusive recebemos a visita do gerente do clube alemão.
Por questão política interna eles resolveram não continuar o projeto apesar dos bons resultados.

8-Em 1999 você desembarcou na desconhecida Ilhas Cayman, fale da vida nesse país, o estado do futebol quando chegou, você foi o primeiro Brasileiro a trabalhar no futebol de lá?
Fui convencido por um brasileiro Professor Airton Brandão, ex- supervisor de grandes clubes cariocas, que me indicou.
Conversando com o general secretário ele me garantiu que poderia convocar jogadores Ingleses que atuavam na segunda e terceira Liga Inglesa, o que reforçaria muito em nossa equipe. Fui contratado e assim o fizemos, porém nas vésperas das eliminatórias a FIFA proibiu a inclusão deles.
De qualquer maneira a experiência foi válida porque fizemos vários intercâmbios, com países da América Central e do Norte.
Hoje o meu presidente da época é o presidente da Concacaf.
Este acúmulo de experiências me acrescentou como treinador e então surgiu o convite para o Reino Unido, indicado pelos próprios profissionais ingleses que trabalharam conosco.

9-Através de quem você foi parar no Livingston da Escócia? Como foi a experiência de trabalho no clube, fale dos resultados que obteve e por quê a nova diretoria não quis dar continuidade ao trabalho?
Nos clubes da Europa a administração é diferente. Existe um dono que é o maior acionista do clube, assim fui contratado através de informações e depois de uma exaustiva entrevista com o corpo técnico e diretivo do clube.
Foi uma ótima experiência e infelizmente o dono vendeu o clube, o que impossibilitou minha permanência apesar de estarmos com 55% de aproveitamento. O clube tinha um histórico de lutar para não cair e estávamos em sexto a três pontos do terceiro (vaga na Liga Europa). De qualquer maneira, acho que deixamos nossa contribuição tanto que no jogo contra o Brasil ano passado um atleta lançado por nós agora na seleção Escocesa, citou nosso nome em entrevista. 
Marvin Andrews, meu capitão na época que disputou a Copa do Mundo por Trinidad e Tobago menciona em seu livro, 3 páginas sobre o nosso trabalho (ler no site), assim como o clube na mensagem de despedida.
10-Quando saiu do time Escocês, é verdade que recebeu propostas de equipes da Inglaterra? Por quê não aceitou?
Sim, era uma equipe média da segunda inglesa, na época (Southampton), e iludido achei que na volta trabalharia em uma equipe grande no Brasil.
 Foi um erro estratégico mas acontece.
11-Márcio, você foi o primeiro Brasileiro a trabalhar no futebol Britânico como treinador, por quê mesmo com grandes passagens como esta o futebol Brasileiro não te oferece boas oportunidades?
No Brasil o Currículo vale pouco, acho até por conta de alguma desinformação.
Para você trabalhar fora, normalmente você passa por alguma entrevista desde o corpo técnico até o diretivo para então ser aprovado. Aqui isso é pouco usado e normalmente as contratações são feitas por serem ex-atletas de nome, o que já tira a pressão da torcida.
Mas sou otimista e novo, logo continuo aguardando.

12-Como foi o trabalho na seleção da Tanzânia obtendo grandes resultados como a classificação à Copa das Nações Africanas?
Foi um dos mais gratificantes, não somente pelos resultados mas pelo crescimento da seleção.
Baixei a média de idade de 27 para 21 anos, e introduzimos uma nova mentalidade, já que o Africano somente gostava de jogar com a bola.
Subimos quase 100 posições no ranking FIFA, além de mudarmos a expectativa dos torcedores em relação a seleção.
13- Márcio, você sempre aceitou desafios na sua carreira, Ilhas Cayman, Escócia e Tanzânia são grandes exemplos, países pouco explorados por treinadores Brasileiros, o que fazia você aceitar essas propostas e você se arrepende de algo?
Pelo contrário, porque acho que esses desafios nos fazem crescer e entender as variadas filosofias de futebol.
 A dificuldade exercita sua criatividade e a necessidade do resultado (pressão) agiliza sua ação.
O Treinador Brasileiro ainda é um dos melhores do mundo, mas como todas as áreas da vida, temos que nos manter atualizados.
Portanto o intercâmbio com outras escolas é importante.

14- Algo de inusitado ou engraçado ocorreu na sua carreira como treinador de futebol?
Daria um livro, mas somente para citar um deles:
Estava recém chegado na Arábia Saudita e os jogadores estavam concentrados para um jogo. Reunidos em torno do jantar, no chão, comendo carneiro com as mãos, costume local da região. Sem problemas.
Em determinado momento porém, o capitão da equipe retira um dos olhos do carneiro e vem na minha direção me oferecer. Atônito sem saber o que fazer perguntei a um membro da comissão como proceder. Este me disse que era um gesto de consideração e que deveria aceitar.
Assim o fiz e não esqueço até hoje.




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