Nome: Márcio Máximo Barcellos
Nascimento: 29 de Abril de 1962-51 anos-Rio de Janeiro
Experiência Profissional:
Projeto UFRJ( 1986-1988), Mesquita( 1989), Vasco da Gama
(1990), Barra da Tijuca Futebol Clube(1991), Seleção Brasileira-Sub17/Sub20
(1992-1993), Seleção do Catar sub20( 1994), Al-Alhi-Árabia Saudita (1995),
Seleção do Rio de Janeiro (1996), Union Berlim-Alemanha(1998), Seleção de Ilhas
Cayman(1999-2002), Livingston-Escócia(2003-2004), Instrutor da Associação
Brasileira de Treinadores (2005), Seleção da Tanzânia(2006-2010), Democrata-MG
(2011-2012), Francana (2013).
“De Cara a Cara”
1-Por não ter jogado futebol profissionalmente, você
sentiu dificuldade para entrar no ramo do futebol?
Joguei futebol de salão no meu início, como a maioria dos
jogadores atualmente, e me transferi para o campo com 16 anos.
Atuei pelo América e Botafogo, ambos na categoria juvenil,
agora juniores, quando sofri um acidente
que me impossibilitou de continuar. Ainda tentei voltar, mas como não recuperei
o nível de antes resolvi parar aos 19 anos.
Tendo esta experiência não foi difícil para mim continuar
no ramo, afinal eu não era um estranho no ninho.
2- Você havia trabalhado em um projeto da faculdade
UFRJ entre 1986 e 1988, como conseguiu uma ascensão rápida indo do
Mesquita para o Vasco da Gama?
Na verdade fui criado dentro do Botafogo, na beira do
campo, com todos aqueles craques da época, no final (anos 70 e 80), como Jairzinho,
Roberto, Paulo César Caju, Afonsinho, Carlos Roberto, Humberto Redes (que
acabou sendo quem me deu a primeira chance no futebol), Ferreti (que me levou
para trabalhar no Mesquita onde ele era o treinador) entre outros.
3-Márcio, no Vasco você pertencia a equipe da
Análise Técnico Tática, você poderia explicar como funciona esse
trabalho no futebol e se houve muita mudança com o passar dos anos?
Através do contato com o supervisor do Vasco, na época
Isaias Tinoco que contatou o grupo da UFRJ para fazer este trabalho.
Era basicamente o que se faz hoje, somente sem o suporte
tecnológico que existe atualmente.
Nos ajudou muito na nossa formação como treinadores,
porque analisávamos os adversários detalhadamente.
O Vasco foi campeão naquele ano.
4-Após o trabalho no Barra da Tijuca você foi a Seleção
Brasileira, fale sobre seu trabalho na base da seleção, você acredita que ainda
deve ocorrer alguma mudança nas categorias de base do Brasil?
Em 1992 não havia um Torneio Nacional sub 17, o que
dificultava o trabalho. Percorríamos o Brasil vendo pequenos torneios e
contando com a ajuda de olheiros como Antoninho. Nosso objetivo maior era
descobrir talentos para o time principal e não somente ganhar torneios.
Ronaldo Fenômeno, Alex, Fabio do Santos, Leonardo Inácio
e Marco Aurélio foram alguns deles.
5-Você chegou ao Catar em 1994, em uma época com
poucos atrativos no país que estava em crescimento, fale de sua ida para lá, o
trabalho na seleção, a vida no país e o porquê de sua saída?
Fui ao Catar em 1994 como auxiliar do sub-20 da Seleção
com Humberto Redes como treinador.
Aprendi muito porque o país na época era muito fechado e
nos reuníamos constantemente com treinadores de várias nacionalidades.
Justamente por não haver muitos atrativos nos concentrávamos
totalmente no futebol, e isso nos ajudava a crescer. Disputamos uma Copa da Ásia
em que obtivemos a melhor colocação nos últimos 14 anos.
Saímos porque não aceitaram os termos de renovação do
Professor Humberto, e eu como seu auxiliar o acompanhei.
6-Como foi seu trabalho na Arábia Saudita?
Aliás este foi meu último trabalho como auxiliar técnico
(em 1995) depois me tornei o treinador principal. Trabalhei com Luís Antônio
Zaluar que fez um bom trabalho, mas na metade do Campeonato teve divergências
com a diretoria e não renovou.
7-Por que no ano de 1997 você não trabalhou no futebol, e
na temporada de 1998 você atuou em um projeto com o Union Berlim, fale desse
projeto e você chegou a treinar esta equipe?
Estava com um projeto juntamente com meu sócio Neider dos
Santos em um clube do Rio. Tive algumas propostas, mas nenhuma interessante o
suficiente para deixar o Brasil e o projeto. Foi quando no ano seguinte surgiu
a possibilidade deste intercâmbio com o clube alemão usando as dependências do
nosso clube no Brasil como teste para jogadores brasileiros. Três
jogadores foram para a Alemanha já pré-selecionados na época e inclusive
recebemos a visita do gerente do clube alemão.
Por questão política interna eles resolveram não
continuar o projeto apesar dos bons resultados.
8-Em 1999 você desembarcou na desconhecida Ilhas Cayman,
fale da vida nesse país, o estado do futebol quando chegou, você foi o primeiro
Brasileiro a trabalhar no futebol de lá?
Fui convencido por um brasileiro Professor Airton
Brandão, ex- supervisor de grandes clubes cariocas, que me indicou.
Conversando com o general secretário ele me garantiu que
poderia convocar jogadores Ingleses que atuavam na segunda e terceira Liga Inglesa,
o que reforçaria muito em nossa equipe. Fui contratado e assim o fizemos, porém
nas vésperas das eliminatórias a FIFA proibiu a inclusão deles.
De qualquer maneira a experiência foi válida porque
fizemos vários intercâmbios, com países da América Central e do Norte.
Hoje o meu presidente da época é o presidente da
Concacaf.
Este acúmulo de experiências me acrescentou como
treinador e então surgiu o convite para o Reino Unido, indicado pelos próprios
profissionais ingleses que trabalharam conosco.
9-Através de quem você foi parar no Livingston da
Escócia? Como foi a experiência de trabalho no clube, fale dos resultados que
obteve e por quê a nova diretoria não quis dar continuidade ao
trabalho?
Nos clubes da Europa a administração é diferente. Existe
um dono que é o maior acionista do clube, assim fui contratado através de
informações e depois de uma exaustiva entrevista com o corpo técnico e diretivo
do clube.
Foi uma ótima experiência e infelizmente o dono vendeu o
clube, o que impossibilitou minha permanência apesar de estarmos com 55% de
aproveitamento. O clube tinha um histórico de lutar para não cair e estávamos
em sexto a três pontos do terceiro (vaga na Liga Europa). De qualquer maneira,
acho que deixamos nossa contribuição tanto que no jogo contra o Brasil ano
passado um atleta lançado por nós agora na seleção Escocesa, citou nosso nome
em entrevista.
Marvin Andrews, meu capitão na época que disputou a Copa
do Mundo por Trinidad e Tobago menciona em seu livro, 3 páginas sobre o nosso
trabalho (ler no site), assim como o clube na mensagem de despedida.
10-Quando saiu do time Escocês, é verdade que recebeu
propostas de equipes da Inglaterra? Por quê não aceitou?
Sim, era uma equipe média da segunda inglesa, na época
(Southampton), e iludido achei que na volta trabalharia em uma equipe grande no
Brasil.
Foi um erro
estratégico mas acontece.
11-Márcio, você foi o primeiro Brasileiro a trabalhar no
futebol Britânico como treinador, por quê mesmo com grandes passagens como esta
o futebol Brasileiro não te oferece boas oportunidades?
No Brasil o Currículo vale pouco, acho até por conta de
alguma desinformação.
Para você trabalhar fora, normalmente você passa por
alguma entrevista desde o corpo técnico até o diretivo para então ser aprovado.
Aqui isso é pouco usado e normalmente as contratações são feitas por serem ex-atletas
de nome, o que já tira a pressão da torcida.
Mas sou otimista e novo, logo continuo aguardando.
12-Como foi o trabalho na seleção da Tanzânia obtendo
grandes resultados como a classificação à Copa das Nações Africanas?
Foi um dos mais gratificantes, não somente pelos
resultados mas pelo crescimento da seleção.
Baixei a média de idade de 27 para 21 anos, e
introduzimos uma nova mentalidade, já que o Africano somente gostava de jogar
com a bola.
Subimos quase 100 posições no ranking FIFA, além de
mudarmos a expectativa dos torcedores em relação a seleção.
13- Márcio, você sempre aceitou desafios na sua carreira,
Ilhas Cayman, Escócia e Tanzânia são grandes exemplos, países pouco explorados
por treinadores Brasileiros, o que fazia você aceitar essas propostas e você se
arrepende de algo?
Pelo contrário, porque acho que esses desafios nos fazem
crescer e entender as variadas filosofias de futebol.
A dificuldade exercita sua criatividade e a
necessidade do resultado (pressão) agiliza sua ação.
O Treinador Brasileiro ainda é um dos melhores do mundo,
mas como todas as áreas da vida, temos que nos manter atualizados.
Portanto o intercâmbio com outras escolas é importante.
14- Algo de inusitado ou engraçado ocorreu na sua
carreira como treinador de futebol?
Daria um livro, mas somente para citar um deles:
Estava recém chegado na Arábia Saudita e os jogadores
estavam concentrados para um jogo. Reunidos em torno do jantar, no chão, comendo
carneiro com as mãos, costume local da região. Sem problemas.
Em determinado momento porém, o capitão da equipe retira
um dos olhos do carneiro e vem na minha direção me oferecer. Atônito sem saber
o que fazer perguntei a um membro da comissão como proceder. Este me disse que
era um gesto de consideração e que deveria aceitar.
Assim o fiz e não esqueço até hoje.