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quinta-feira, 8 de maio de 2014

"De Cara a Cara"

Hoje o entrevistado é um treinador muito experiente, trata-se de Neider dos Santos, que trabalhou no Vasco, Botafogo, Mundo Árabe e com passagens por seleções do Caribe, como Ilhas Cayman, Guiana e Bahamas, onde realizou grandes trabalhos e contribuiu para a evolução do futebol nesses pequenos países.
O último clube em que o treinador trabalhou foi o Montego Bay da Jamaica em 2011/2012, atualmente Neider é professor do Curso de Formação de Treinadores da FERJ.
Confira a entrevista do treinador onde conta sobre suas passagens pelo Mundo Árabe, Caribe e Tanzânia, onde comandou um dos principais clubes do país, o Simba FC, vale a pena conferir:

Nome: Neider Carvalho Colmerauer dos Santos
Nascimento: 22/02/1965
Clubes:
Projeto Futebol Esperança-SUB20(1988-1991), Ceres-RJ(1989), Vasco da Gama (Observador Técnico) (1990), Mesquita (1992-1993), Barra da Tijuca(1994), Botafogo(1995), Al-Alhi Doha-Catar (1995-1996),Al-Naser Club Salalah-Omã (1997-1998),Union Berlim-(Projeto de Intercâmbio Brasil/Alemanha) (1998-1999),Seleção de Ilhas Cayman (2000-2001), Bodden Town Sport Clube-Ilhas Cayman(2000),Seleção de Guiana(2002-2004), Simba-Tanzânia(2006), Seleção de Bahamas(2006-2008), Azam-Tanzânia(2008-2009),Village United-Jamaica(2010-2011), Montego Bay(2011-2012).

Títulos:
Al-Nasser Club-Omã-Campeão Nacional(1997/1998)
Al-Alhi- Federation Cup(1995/1996) / Chababe Cup(1995/1996).

“De Cara a Cara”
1-Neider, no final da década de 1980  você era atleta da Universidade do Rio de Janeiro, você já tinha em mente largar o futebol na Universidade para trabalhar como técnico no campo?
Em 1985 entrei para Educação Física na UFRJ, onde fui atleta de futebol de campo até 1991, tendo sido convocado para seleção carioca em 1988 e 1989. Sempre fui envolvido com futebol, e já tinha como objetivo me tornar técnico sim.

2-Antes do trabalho no Ceres você treinou o sub20 do Projeto Esperança, coordenado por Humberto Rêdes. Como conheceu o ex-jogador e fale sobre o projeto?
Humberto Rêdes foi meu professor das disciplinas Futebol 1 e 2 na faculdade, e por ocasião da implementação do Projeto Futebol Esperança na UFRJ ele me convidou para fazer parte do mesmo. Este foi um projeto pioneiro e de grande sucesso. Usávamos o campo da UFRJ na Praia Vermelha, e tínhamos categorias sub 20, sub 17, sub 15 e sub 13. As comissões Técnicas eram formadas por alunos/monitores da UFRJ. Cada categoria treinava 3 vezes por semana, e ainda fazíamos amistosos contra equipes de clubes nas respectivas categorias. Vários jogadores do projeto conseguiram a chance de se profissionalizar, inclusive 1 deles foi jogar no Japão. Infelizmente por problemas políticos internos da UFRJ, o projeto acabou. Foi uma experiência valiosíssima na minha formação de treinador, ainda mais contando com a supervisão de uma pessoa do calibre de Humberto Rêdes, que além de atleta profissional de alto nível que foi, é também Doutor em Educação Física e administrador formado, além da experiência como técnico e gerente de futebol.

3-No Ceres você atuou na elaboração do planejamento da preparação física e tática. Como era feito esse trabalho e por quê saiu do clube?
No Ceres, nos foi pedido para realizarmos um projeto de planejamento do futebol do clube, esse trabalho foi feito e entregue à direção para implantação, já que o  Ceres não tinha recursos financeiros para contratar uma equipe de trabalho multidisciplinar, portanto nosso trabalho se resumiu ao projeto de planejamento.

4-Você teve grandes experiências na África e no Caribe, por quê técnicos Brasileiros não possuem muita chance na Europa? 
Penso que os treinadores Brasileiros estão entre os melhores do Mundo. Porém na Europa, por terem também técnicos de alto nível, acaba sendo mais simples contratarem um Europeu. Existe também a barreira da língua que pode atrapalhar em alguns casos. 

5-No Vasco trabalhou de Márcio Máximo na observação técnica, que faz todo o levantamento do adversário ou da própria equipe.
Como era feito todo esse trabalho e o que evoluiu nele nos dias atuais?
Esse trabalho de observação técnica  feito no Sub 20 do Vasco da Gama foi pioneiro na época. Cada um de nós (éramos 12) ficava responsável por acompanhar um adversário do Vasco, então tínhamos que ir aos jogos desta equipe e preencher um relatório para cada jogo, com escalação, substituições, sistema de jogo, principais jogadas ofensivas, tipos de marcação, jogadas ensaiadas, pontos fortes, pontos fracos e observações gerais. Era um relatório bem detalhado que era passado ao treinador do Vasco. No dia do jogo contra esse adversário que você era responsável pela observação,  tínhamos uma reunião com o treinador para passar um resumo de toda a observação daquele adversário, e esclarecer alguma questão que o técnico viesse a ter, sobre algo dos relatórios. Então, depois desse encontro o técnico ia dar a preleção aos jogadores.
Já nos dias atuais, é tudo bem mais fácil devido à tecnologia existente, como vídeos, edições e programas de computadores que te auxiliam a ter conhecimento do adversário assim como avaliar o desempenho da sua própria equipe.

6-Fale de sua pequena passagem pelo Botafogo em 1995?
Em 1995 o Gerente de Futebol Amador do Botafogo era Humberto Redes, e ele me convidou para ser o responsável pela avaliação dos jogadores em experiência nos Juniores. Porém fiquei pouco tempo,  pois recebi proposta para trabalhar no Qatar.

7-Na década de 1980 e 1990 houve uma demanda grande de Brasileiros para trabalhar no Mundo Árabe, que na época estava começando a crescer financeiramente, o que motivava o profissional ir parar lá, era só o lado financeiro, as premiações ou a vida no país?
Na verdade ir para o Oriente Médio significava, além de uma boa remuneração, também experiência profissional. Claro que o fator cultural também contava, vivenciar uma cultura tão distinta da nossa, tanto dentro como fora do campo te acrescenta muito na sua formação profissional.

8-Em 1997/1998 fez um grande trabalho em Omã, se tornando Campeão Nacional. O que fez você sair do clube?
A temporada de 1997/1998 em Omã foi muito especial, até porque foi a minha primeira como treinador principal, e conseguimos fazer um grande trabalho sendo campeões da liga com 3 rodadas de antecipação. Apesar disso não houve um consenso na parte financeira para a renovação.

9-Depois do projeto com o Union Berlim você seguiu para Ilhas Cayman. Como era a estrutura do futebol no país, seu trabalho na seleção e sua passagem pelo Bodden Town?

As Ilhas Cayman é um país bem pequeno e de população reduzida. Estavam num processo de estruturação do futebol. Eu era assistente do Márcio Máximo no time principal e dirigia o Sub 20. Depois fui contratado para ser o treinador do principal do Bodden Town F.C. onde fiquei por 1 temporada. Mas a estrutura do clube era bem precária, não dando assim condições de realizar um trabalho de excelência.

10-Quando saiu de Ilhas Cayman e foi para a Guiana, você chegou a receber a proposta mais tarde para trabalhar com o Márcio na Escócia? 
Não. Não recebi proposta para trabalhar com o Márcio Máximo na Escócia.

11-A Guiana é um país que é fanática pelo futebol Brasileiro, inclusive tem um clube que se chama Pelé FC. Neider, como é a estrutura do país em relação à vida, futebol(clubes/jogadores) e por quê saiu de lá?
A Guiana é um país apaixonado pelo futebol Brasileiro. Cheguei lá com a missão de desenvolver o futebol. Os clubes não tinham uma boa estrutura, mas o material humano estava lá. Tínhamos um Pré- Olímpico pela frente, então, devido à falta de estrutura dos clubes, eu selecionei 26 jogadores sub 23, os tirei dos clubes e os coloquei concentrados num total 8 meses entre o início da preparação até nossa última participação, tendo nesse período 1 folga por semana. Treinos diários e muitas vezes em 2 períodos. A média de idade da equipe era de 19 anos, portanto era um time bem jovem. O resultado foi fantástico!. A equipe se classificou pela primeira vez para a fase CONCACAF do Pré-Olímpico, vencendo Santa Lúcia, Trinidad & Tobago e Barbados nesse processo, todos estes com mais tradição e melhor ranking FIFA do que a Guiana. Durante a preparação jogamos vários amistosos contra os times principais dos melhores clubes da Guiana e vencemos todos.
Dessa equipe, vários jogadores conseguiram assinar bons contratos fora da Guiana. E para minha satisfação, essa equipe Sub 23 que formei e dirigi, foi a base da seleção principal da Guiana que se classificou pela primeira vez para o hexagonal final da CONCACAF nas últimas Eliminatórias para a Copa do Mundo no Brasil.
Sai da Guiana porque depois de 3 anos trabalhando lá, era hora de tentar novos desafios.

12-Como foram suas duas passagens pelo futebol da Tanzânia, no Simba e no Azam?
Neider dirigindo o Simba da Tanzânia.
A Tanzânia é um país fanático por futebol. Existem lá 2 times de massa, Simba e Young Africans (Yanga) onde a rivalidade entre seus torcedores só é comparada aqui no Brasil a Grêmio x Internacional. Fui dirigir o Simba em 2006 e fomos Vice Campeões da Premier League e Vice Campeões da Tusker International Cup. Fiquei lá por 1 temporada, e é um país que vive e respira futebol. Saí porque houve eleições no clube no final da temporada e a oposição ganhou, quem pagava meus salários era um patrocinador que não quis continuar no clube devido ao resultado das eleições. Além disso eu tinha recebido proposta para assumir a Seleção de Bahamas e resolvi aceitar, devido a instabilidade política do Simba naquele momento.
Já o Azam era um clube que em 2008 havia galgado a Premier League, e me fez uma proposta muito boa para que eu deixasse a seleção de Bahamas. Azam é um clube que pertence a uma família de empresários muito bem sucedida tanto na Tanzânia como na África. Cheguei com o campeonato já em andamento, e o clube precisava de reforços, pois estava praticamente com o mesmo time que havia subido de divisão, o que não era suficiente para fazer uma boa temporada. Mas conseguimos fazer um bom trabalho.

13- Fale de sua passagem pela Seleção de Bahamas?
Bahamas era uma situação bem semelhante às Ilhas Cayman, só que melhor estruturados. Também tínhamos um Pré- Olímpico (Sub 23) pela frente em 2007, e trabalhamos duro para formar uma boa equipe. Passamos bem da primeira fase vencendo Ilhas Virgens Britânicas por 3x0 e Ilhas Virgens Americanas por 6x1. Na segunda fase, jogada no Haiti, depois de perdermos o primeiro jogo para os donos da casa, vencemos a Jamaica Sub 23 por 1x0, numa vitória histórica, pois pela primeira vez Bahamas vencia a Jamaica em qualquer categoria. O time Sub 23 da Jamaica era o mesmo que alguns dias antes de nos enfrentar, foi Vice- Campeão dos Jogos Pan Americanos no Rio de Janeiro. Já na equipe principal, jogamos as eliminatórias da Copa da África do Sul, vencendo as Ilhas Virgens Britânicas e perdendo para a Jamaica de Renê Simões.

14-Atualmente, além dos cursos que ministra para a Federação e o trabalho na Secretaria de Esporte, você recebe propostas para voltar a trabalhar no Caribe?
Hoje em dia ainda recebo algumas propostas do Caribe, mas depois de ter dirigido o Village United (2010/2011) e o Montego Bay United (2011/2012) ambos clubes da Premier League da Jamaica, quis ficar um pouco no Brasil. Em 2013 o St George da Etiópia me convidou para visitar o clube em Addis Abeba e me fizeram uma proposta, mas não houve acerto. 



Um comentário:

  1. Ele é ótimo futebolista, professor, muita atenção e dedicação aos seus alunos e amigo.
    Uma pessoa do bem e super educado, pronto pra ajudar em tudo.
    Sinto-me orgulhoso de ser seu aluno na FERJ.
    Me inspira na realização de meu sonho, agora, ser treinador formado.
    Parabens pra Ele e para mim também.
    Valeu prof.
    Abrç.
    Julio Cesar ANDRADE.

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