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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Os Encantos e Rituais do Futebol Africano

O continente Africano é o segundo mais populoso, perdendo apenas para Ásia, mas sua população em grande parte vive na área rural, com apenas 37% vivendo nas cidades.
A religião predominante é a muçulmana, com 40% de adeptos, em segundo o catolicismo, com 15%, além de diversos cultos africanos, como por exemplo, a capital mundial do vodu, localizada em um pequeno país chamado Benin.

Devido a diversas crenças e grupos étnicos que caracterizam a região, isso acaba influenciando também no futebol, que em grande parte dos 54 países é o esporte mais praticado. Nossa primeira história começa na Costa do Marfim, país simples, cujo 48% da população vive abaixo da linha da pobreza, participou das últimas três Copas do Mundo (2006, 2010,2014), mas possui histórias para lá de inusitadas.

Durante o ano de 1992, uma semana antes da viagem para a disputa da Copa das Nações Africanas, competição essa que os marfinenses nunca haviam ganhado.  Os dirigentes da federação foram a uma pequena cidade chamada Akradio, conhecida por possuir os magos e bruxos mais poderosos da Costa do Marfim. Os bruxos realizaram o trabalho, e os dirigentes voltariam ao vilarejo caso a equipe se sagrasse campeã, fato que realmente ocorreu a Costa do Marfim bateu Gana nos pênaltis pelo placar de 11x10 e conquistou o título pela primeira vez, os bruxos irritados com o esquecimento dos dirigentes, jogaram uma praga na seleção.

A praga parece que surtiu efeito, no campeonato de 1994, a Costa do Marfim ficou com a terceira colocação, e diante de um cenário de insucessos da seleção, em 2002 o governo levou um representante para a cidade de Akradio com 2 mil dólares e garrafas de bebidas para intermediar a negociação com os bruxos. A Costa do Marfim ainda seria vice-campeã em 2006 e 2012, mas se sagrou campeã em 2015, ao bater Gana pelo placar de 9x8 nas penalidades.

Em outra história curiosa, segundo entrevista do atacante Didier Drogba, o ex-goleiro Tizie, aquele que disputou a primeira Copa do Mundo da Costa do Marfim em 2006, pagou 460 euros para um bruxo afastar os maus espíritos, o ritual teria ocorrido em um cemitério.
A Copa Africana de Nações é cercada de histórias, em 2002, o goleiro camaronês Thomas Nkono, foi preso em campo pela polícia malinesa por supostamente ter feito uso de magia negra na semifinal contra Mali.

Treinador Braid Ribeiro durante passagem por Guiné.
Crédito: Divulgação Oficial
O treinador brasileiro Braid Ribeiro, com passagens por Espérance Tunis da Tunísia, Monastir da Tunísia e Fello Star, clube onde se sagrou  campeão nacional de Guiné em 2011/2012, disse que na Tunísia não havia rituais nas partidas, apenas a reza tradicional de todo atleta.

“Eles possuem a mesma rotina de fé e na África não é diferente. Em Labê, Guiné Conakri, tinha um homem que rezava para nossa equipe e nossos atletas confiavam nas orações dele, pedindo força para a equipe e atletas, com banhos e orações”, disse o experiente treinador maranhense Braid Ribeiro.

Já em Togo, a Federação Nacional de Vodu, realizou um trabalho para a seleção, após a morte de um total de 30 atletas entre dois acidentes, o primeiro quando o ônibus da federação foi atacado em Cabinda na Angola, e o segundo, em um acidente de ônibus da equipe togolesa do Etoile Filante.
O atacante Adebayor se viu dentro de uma polêmica nos últimos anos, o atleta acusou sua mãe e sua irmã, de realizar trabalhos espirituais para não marcar gols.

Um dos conhecidos "Juju Doctors"
Crédito: Jornal The Sun
“A Terra dos Juju Doctors”

A Tanzânia é a terra dos chamados Juju Doctors, um país de aproximadamente 50 milhões de habitantes, possui histórias muito inusitadas no futebol, os “Juju Doctors”, são macumbeiros profissionais, que cobram dos dirigentes dos clubes uma fortuna antes dos jogos. Os dirigentes acabam pagando, mesmo apesar de não acreditar nesses trabalhos espirituais, pois, caso não paguem e perca o jogo, a torcida irá protestar alegando que perderam porque não pagaram os Juju Doctors.

“Na semana que antecede o clássico, os torcedores de ambos os times, cercam o estádio para protegê-los da macumba dos torcedores rivais”, diz o treinador brasileiro Neider dos Santos.


Neider durante passagem pelo Simba em 2006.
Crédito: Divulgação Oficial
Neider fala sobre o clássico Young Africans x Simba, clássico no qual viveu quando trabalhou no Simba na temporada de 2006, em 2008, o brasileiro retornou para  a Tanzânia, porém para trabalhar no Azam, além de comandar o Saint George da Etiópia em 2014/2015.

Em 2003 na Tanzânia, o Yanga, como é conhecido o Young Africans, e o Simba, foram condenados pela federação de futebol local a pagar multas por rituais de feitiçaria antes do jogo, segundo afirmações, dois atletas do Yanga haviam urinado em campo para neutralizar as substâncias.

“Eles acreditam em macumba no futebol, 90% dos jogadores creem nisso, é uma coisa muito forte, cultural mesmo, uma verdadeira indústria por lá”, completou o treinador Neider dos Santos.


A curiosidade fica por conta das manias que os jogadores possuem sentar-se sempre nos mesmos lugares, comer a mesma coisa antes do jogo, e calçar a meia no pé esquerdo antes do direito.

“Dizem que prata tira a macumba da equipe”, completa o brasileiro Andrey Coutinho, ex-jogador do Yanga, atualmente está em Mianmar.


Andrey durante sua apresentação no Young Africans.
Crédito: Divulgação Oficial.
O jogador foi levado na época pelos brasileiros Márcio Máximo e Leonardo Neiva, porém ambos o treinador e o auxiliar técnico acabaram saindo, e Andrey continuou na equipe, se tornando campeão local.

“Estamos no jogo no interior, era praticamente ataque contra defesa, meu time atacava toda hora, perdendo muitos gols, a bola não queria entrar de jeito nenhum, batia na trave, na cara do goleiro e não entrava. Aí que do nada um cara da comissão técnica foi ao lado da trave do goleiro adversário, e lá havia outra luva, uma luva feia e suja, ele pegou e saiu correndo, o jogo parou, o policiamento correu atrás dele junto com os atletas do time e o goleiro também, conseguiram pegar, mas coincidência ou não, depois que essa luva saiu ao lado da trave, conseguimos marcar o gol da vitória, e até fui eu que marquei”, completou o brasileiro Andrey Coutinho.


Além da Tanzânia, Guiné, Togo e Benin, há mais países africanos que utilizam rituais para diversos fins, sendo os Juju Doctors, os chamados macumbeiros profissionais ou rituais e amuletos, muito praticado na região predominante ao oeste africano.



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