Renan durante treinamento com a equipe. |
Em agosto de 2016, o jovem Renan Augusto, natural de São
Paulo, recebeu uma proposta para jogar em um futebol desconhecido, a República
Democrática do Congo. Antigo Zaire, como
foi chamado até 1997, o país é o quarto mais populoso da África e faz fronteira
com a República Centro-Africana, Sudão do Sul, Uganda, Ruanda, Burundi e
Tanzânia.
Renan foi revelado pela AD Guarulhos, onde jogou nos anos
de 2014 e 2015. Em 2015 atuou no Juara, clube do Mato Grosso, e no começo de
2016 passou por Sporting Club Morumbi Rondoniense, de Rondônia. A proposta para
o futebol da República Democrática do Congo surgiu através dos dois empresários
do atleta, Carlos da GDA Sports, e Fabrício Carvalho, da FC9 Esportes, que por
intermédio da empresa Oasis Hope, dos congoleses Macochee Nkuzu e Bodiane
Steeven, viabilizaram a ida do atleta para o DCMP Imana, da cidade de Kinhasa.
O país ainda está se reestruturando, assim como o
futebol. Com duas divisões profissionais, e uma primeira divisão com 28
equipes, a média salarial está em torno de US$ 3 mil dólares, e existem clubes de
cidades grandes como Kinhasa e Lubumbashi, que oferecem ótima estrutura para os
atletas, mas no interior do país, algumas equipes não possuem estrutura de
trabalho adequada.
“Aqui no país até onde eu sei só o Mazembe possui estádio
próprio”, é o que destaca Renan, que
espera enfrentar a maior equipe do país durante o play-off do campeonato
nacional, mas deixa claro que a estrutura tanto de moradia, como nos
treinamentos e viagem do clube são excelentes.
O clube manda os jogos no maior estádio do país,
conhecido como Stade des Martyrs, possui capacidade para 80 mil torcedores, e
junto ao DCMP Imana, o AS Vitta Club também manda seus jogos neste estádio.
Renan durante apresentação oficial no clube. |
Apresentação
de gala e viagens inusitadas
Enquanto o jogador é pouco conhecido no Brasil, na
República Democrática do Congo a situação é diferente, e durante a apresentação
no clube em agosto, mais de 30 mil torcedores compareceram ao estádio Stade des
Martyrs para acompanhar a chegada do atleta, que já realizou quatro partidas
pela equipe.
Além da grande apresentação, outra coisa que surpreendeu
Renan, foram às viagens para o interior do país, encontrando a falta de
estrutura de alguns clubes congoleses.” Fomos para uma cidade chamada Matadi, e
um detalhe curioso é que jogamos uma partida da primeira divisão em um campo de
areia, sem vestiário. Fomos trocados do hotel para a partida, e não havia
grades de proteção ou banco de reservas. Literalmente o torcedor ficava na
beirada da linha lateral”, destacou o brasileiro.
Ônibus atolado durante o caminho para a cidade de Bandundu. |
Se não bastasse jogar em um campo de várzea, durante outra
viagem, desta vez para a cidade de Bandundu, a equipe de Renan resolveu ir de
ônibus para o local da partida, mas o resultado não foi nada animador, 15 horas
de viagem, estradas de terra já que não havia asfalto, ônibus atolado, pneu furado
e um total de 1h30 parado na estrada.
Medo
e campeonato paralisado
No mês de dezembro, o campeonato congolês que havia
acabado de começar, com apenas quatro jogos disputados, foi paralisado devido
aos problemas políticos. Com perspectiva de volta apenas em fevereiro, e sem a
disputa dos últimos três jogos da fase de grupos, mas direto nos play-offs. No
entanto, segundo Renan, a federação voltou atrás e os últimos três jogos serão
disputados. O DMCP Imana é o segundo colocado do grupo.
“O presidente não organizou as eleições e não saiu do
poder, alegando falta de dinheiro”, disse Renan. O atual presidente do país,
Joseph Kabila, assumiu o poder em 2001, herdando o trono do pai, Laurent-Desiré
Kabila, morto por um de seus seguranças.
Uma morte que gera controvérsias até os dias atuais.
Com a crise política o medo se espalhou pelo país, que
teve alguns problemas com protestos, no qual segundo a ONU (Organização das
Nações Unidas), morreram mais de 40 pessoas. “Teve problema, medo espalhado
pelo país durante os dias 19, 20 e 21 de dezembro. Um clima tenso, ruas vazias, muita polícia, e
os treinamentos foram paralisados no dia 15”, revelou Renan.
Com tudo fechado no país, Renan disse que ficou se
alimentando apenas de pão, já que até o restaurante do hotel estava fechado.
“Fiquei só de pão por dois dias, pois havia apenas um mercado aberto perto de
onde moro, aí aproveitei para comprar pães e queijos”, disse o atleta que está
no Brasil aguardando a volta do campeonato, enquanto a atual situação e
oposição do país negociam a respeito das eleições presidenciais.
Reportagem: Ulisses Carvalho
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