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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Crise política e campeonato paralisado: Conheça as aventuras de Renan Augusto no futebol da República Democrática do Congo

Renan durante treinamento com a equipe.
Em agosto de 2016, o jovem Renan Augusto, natural de São Paulo, recebeu uma proposta para jogar em um futebol desconhecido, a República Democrática do Congo.  Antigo Zaire, como foi chamado até 1997, o país é o quarto mais populoso da África e faz fronteira com a República Centro-Africana, Sudão do Sul, Uganda, Ruanda, Burundi e Tanzânia.

Renan foi revelado pela AD Guarulhos, onde jogou nos anos de 2014 e 2015. Em 2015 atuou no Juara, clube do Mato Grosso, e no começo de 2016 passou por Sporting Club Morumbi Rondoniense, de Rondônia. A proposta para o futebol da República Democrática do Congo surgiu através dos dois empresários do atleta, Carlos da GDA Sports, e Fabrício Carvalho, da FC9 Esportes, que por intermédio da empresa Oasis Hope, dos congoleses Macochee Nkuzu e Bodiane Steeven, viabilizaram a ida do atleta para o DCMP Imana, da cidade de Kinhasa.

O país ainda está se reestruturando, assim como o futebol. Com duas divisões profissionais, e uma primeira divisão com 28 equipes, a média salarial está em torno de US$ 3 mil dólares, e existem clubes de cidades grandes como Kinhasa e Lubumbashi, que oferecem ótima estrutura para os atletas, mas no interior do país, algumas equipes não possuem estrutura de trabalho adequada.

“Aqui no país até onde eu sei só o Mazembe possui estádio próprio”, é o que destaca Renan,  que espera enfrentar a maior equipe do país durante o play-off do campeonato nacional, mas deixa claro que a estrutura tanto de moradia, como nos treinamentos e viagem do clube são excelentes.
O clube manda os jogos no maior estádio do país, conhecido como Stade des Martyrs, possui capacidade para 80 mil torcedores, e junto ao DCMP Imana, o AS Vitta Club também manda seus jogos neste estádio.

Renan durante apresentação oficial no clube.
Apresentação de gala e viagens inusitadas

Enquanto o jogador é pouco conhecido no Brasil, na República Democrática do Congo a situação é diferente, e durante a apresentação no clube em agosto, mais de 30 mil torcedores compareceram ao estádio Stade des Martyrs para acompanhar a chegada do atleta, que já realizou quatro partidas pela equipe.

Além da grande apresentação, outra coisa que surpreendeu Renan, foram às viagens para o interior do país, encontrando a falta de estrutura de alguns clubes congoleses.” Fomos para uma cidade chamada Matadi, e um detalhe curioso é que jogamos uma partida da primeira divisão em um campo de areia, sem vestiário. Fomos trocados do hotel para a partida, e não havia grades de proteção ou banco de reservas. Literalmente o torcedor ficava na beirada da linha lateral”, destacou o brasileiro.

Ônibus atolado durante o caminho para a cidade de Bandundu.
Se não bastasse jogar em um campo de várzea, durante outra viagem, desta vez para a cidade de Bandundu, a equipe de Renan resolveu ir de ônibus para o local da partida, mas o resultado não foi nada animador, 15 horas de viagem, estradas de terra já que não havia asfalto, ônibus atolado, pneu furado e um total de 1h30 parado na estrada.

Medo e campeonato paralisado

No mês de dezembro, o campeonato congolês que havia acabado de começar, com apenas quatro jogos disputados, foi paralisado devido aos problemas políticos. Com perspectiva de volta apenas em fevereiro, e sem a disputa dos últimos três jogos da fase de grupos, mas direto nos play-offs. No entanto, segundo Renan, a federação voltou atrás e os últimos três jogos serão disputados. O DMCP Imana é o segundo colocado do grupo.

“O presidente não organizou as eleições e não saiu do poder, alegando falta de dinheiro”, disse Renan. O atual presidente do país, Joseph Kabila, assumiu o poder em 2001, herdando o trono do pai, Laurent-Desiré Kabila, morto por um de seus seguranças.  Uma morte que gera controvérsias até os dias atuais.

Com a crise política o medo se espalhou pelo país, que teve alguns problemas com protestos, no qual segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), morreram mais de 40 pessoas. “Teve problema, medo espalhado pelo país durante os dias 19, 20 e 21 de dezembro.  Um clima tenso, ruas vazias, muita polícia, e os treinamentos foram paralisados no dia 15”, revelou Renan.


Com tudo fechado no país, Renan disse que ficou se alimentando apenas de pão, já que até o restaurante do hotel estava fechado. “Fiquei só de pão por dois dias, pois havia apenas um mercado aberto perto de onde moro, aí aproveitei para comprar pães e queijos”, disse o atleta que está no Brasil aguardando a volta do campeonato, enquanto a atual situação e oposição do país negociam a respeito das eleições presidenciais. 

Reportagem: Ulisses Carvalho

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