O futebol, quando analisado em termos de alto rendimento,
é um desporto de intensidade, diferentemente de um desporto de duração onde se
treina MAIS (volume), mas em intensidade submáxima. Assim, treinar MELHOR e na
máxima intensidade é o que importa no futebol de alto rendimento, o que se
traduz em qualidade das ações.
Como desporto coletivo, modalidade aberta/acíclica de
natureza aleatória, com predomínio de esforços do tipo aeróbio em termos de
volume, mas intermitente e com preponderância anaeróbia alática em termos de
intensidade, e no que tange às ações decisivas = Esforços máximos de curta e curtíssima
duração (> ou =10”), com arranques, frenagens, saltos, giros, mudanças de
direção... em distâncias que variam predominantemente de 3 a 15m, raramente
ultrapassando os 40m, é influenciado por uma infinidade de variáveis táticas,
com interações complexas e dinâmicas em um campo de jogo de grandes dimensões e
grande número de atletas envolvidos, restringidos ainda (exceto os goleiros) ao
uso exclusivo dos pés... É portanto, um jogo complexo e de elevado grau de
dificuldade!
O tempo médio de bola em jogo em uma partida é de 60’ e o
de bola fora de jogo é, em média, de 30’. As ações com a bola, duram, em média,
30”, seguidas de intervalos/pausas de 15”, em média. O atletas chegam a
realizar de 150 a 200 sprints curtos por partida!
Ao futebolista de alto rendimento, são demandadas duas
capacidades básicas:
1) A capacidade de jogar em ritmo intenso, ou seja,
executando mais ações de alta intensidade por minuto, o que implica em uma
rápida recuperação entre estas ações;
2) A capacidade de manter um determinado ritmo de jogo
por mais tempo.
Para se desenvolver a capacidade de jogar em ritmo
intenso (mais ações por minuto), são indicados os treinos em jogos com campos
reduzidos, o que exige também um tempo menor para recuperação entre essas ações
intensas. Quanto mais rápido o atleta for capaz de se recuperar entre uma ação
de alta intensidade e outra, melhor! Já a capacidade de manter ritmo de jogo
por mais tempo se treina no campo em tamanho normal com onze contra onze.
A moda de se treinar em campo reduzido, que virou febre
no Brasil, ainda que sem se saber direito o porque e como, surgiu no final da
década de 90. Por não saberem sobre este “porque e como”, muitas equipes caíam
acentuadamente de rendimento no segundo tempo de jogo por terem, por simples
modismo, se acostumado a treinar quase que somente em campo reduzido.
Um dos primeiros a trazer este modelo de treinamento e
aplicá-lo com critério no Brasil foi o Prof. Paulo Autuori. Foi uma grande
inovação em termos de metodologia de treinamento e que trouxe, como
consequência, um grande aumento na intensidade do jogo.
Há no futebol uma hierarquia que muitas vezes não é
respeitada, principalmente no Brasil, onde ainda se treina muito fisicamente e
de modo isolado através do método analítico, fracionado ou integrado. Esta
hierarquia obedece à seguinte ordem: 1) Comunicação; 2) Percepção/Entendimento
do jogo + Tomada de decisão; 3) Execução da Decisão = executar o que foi
decidido através da Técnica; 4) Condicionamento Físico específico para o futebol
(“Futebol Fitness”). Resumindo: Quando se trata de equipes de alto rendimento,
bem treinadas, a Tática (comunicação + percepção + decisão + execução) é mais
importante do que o Condicionamento Físico em si!
Imagine, por exemplo, a seguinte situação momentânea de
um jogo: Um meio campista está com a bola nos pés. Um de seus companheiros, o
lateral direito, passa em sprint pela lateral do campo. O seu goleiro grita
orientações sobre posicionamentos e atenções diversas. O seu marcador se
aproxima rapidamente tirando os espaços e para tentar tomar-lhe a bola... Outro
colega seu, também meio campista, se aproxima indicando que pode ser uma opção
para uma tabela... Há, neste quadro, todo um contexto de comunicações verbais e
não verbais: A ação do lateral indica que ele está comunicando, não
verbalmente, que é para o meio campista lançar-lhe a bola no espaço vazio à sua
frente. A voz do goleiro indica que, se necessário, a bola pode lhe ser
recuada. As ações do marcador indicam que o meio campista deve decidir
rapidamente o que fazer com a bola sob o risco de perder a sua posse... Tudo
isto é COMUNICAÇÃO!
A PERCEPÇÃO ou ENTENDIMENTO DE JOGO, podem também ser
traduzidos por INSIGHTS de JOGO, ou inteligência de jogo, a capacidade de ler,
discernir o que acontece à sua volta e escolher o que se vai fazer para
resolver a situação-problema específica daquele momento.
EXECUÇÃO DA DECISÃO, por sua vez, é usar da
técnica/habilidade pessoal, para executar os gestos técnicos que darão
sequencia a uma determinada jogada.
O chamado “FUTEBOL FITNESS” é o uso de um condicionamento
físico específico que os capacita para executar o maior número de ações
intensas por minuto e pelo maior tempo possível.
Este ciclo Comunicação-Percepção-Decisão-Execução-Fitness
é executado milhares de vezes pelos atletas durante uma partida. Estão todos
intimamente relacionados e são executados em sequencias de frações de segundos
de duração (quase se fundindo), a fim de serem bem sucedidos, dada a enorme e
cada vez mais intensa, pressão de tempo e de espaço (menos tempo e menos espaço
permitidos pelas ações do time adversário) disponíveis para a execução das suas
ações do jogo.
Por ser fenômeno de massas envolvendo paixões e cifras
astronômicas, há no futebol de alto rendimento uma enorme pressão por
resultados e, de acordo com as argumentações acima, dentro de um ciclo lógico,
é fundamental que o entrosamento de um time titular seja buscado
prioritariamente, pois entrosamento = COMUNICAÇÃO eficaz; desenvolvida entre os
jogadores TITULARES = os mais talentosos, que logicamente, devem ser os que
jogam mais vezes e por mais tempo, levando assim a um jogo COLETIVO bem
ajustado. Se tivermos um time bem CONDICIONADO e bem DESCANSADO para o futebol,
teremos poucas lesões e, assim, teremos sempre um time titular pronto para
jogar, mantendo o entrosamento = eficiência TÁTICA. É o ciclo virtuoso do bom
time de futebol! Daí, pode se inferir que um time, se estiver bem entrosado,
bem treinado, bem condicionado e descansado, mesmo que não tão talentoso,
será um time competitivo! Não será um Bayern ou um Barcelona, mas a qualidade
de seu trabalho, criterioso e planejado, será vista por todos.
Referência bibliográfica:
Raymond Verheijen – “How simple can it be” – World
Football Academy
Fonte: www.ceperf.com.br
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