Guedes durante comemoração de um gol marcado pelo Marist. |
As Ilhas Salomão é um país pouco conhecido no cenário
futebolístico. Localizada na Oceania, essa nação de apenas 583 mil habitantes
vêm importando brasileiros para o desenvolvimento do futebol local.
“Em menos de uma semana acertamos valores e tempo de
contrato”, afirmou o atacante brasileiro Guilherme Guedes, com passagens por
Internacional, Caxias, Montevideo Wanders, futebol de Omã e Malta, o gaúcho
atuou no Marist, um dos maiores clubes das Ilhas Salomão, com três títulos
nacionais conquistados.
A evolução no futebol local é um processo que está em
andamento. O país conseguiu a independência do Reino Unido apenas em julho de
1978, mas ainda lida com alguns problemas, como a corrupção, deflorestamento e a
vida fora da capital Honiara, onde a população sofre com a falta de emprego e
outros problemas sociais.
No ranking da Fifa, o país ocupa apenas a 180° colocação, e
a liga local começou apenas em 2003. Um dos primeiros brasileiros a trabalhar
no futebol do país foi o treinador Airton Andrioli, que comandou a seleção em
meados de 2006 e 2009. Atualmente o treinador Juliano Schmeling vem realizando
um grande trabalho no país, comandando as Ilhas Salomão na Copa do Mundo de
Futsal e também o Marist, onde conquistou a primeira vitória da equipe na Liga
dos Campeões da Oceania, além de levar três jogadores brasileiros para o clube,
como Guilherme Guedes, Djair Veiga e André Morosini.
Os três atletas atuaram no Marist durante a Liga dos
Campeões da Oceania. A equipe acabou eliminada na fase de grupos, mas em apenas
três jogos, o atacante gaúcho Guilherme Guedes marcou cinco gols e terminou
como vice artilheiro da competição.
Em conversa com o blog, Guedes afirma que está em negociação
com o Marist novamente, e também revelou que apenas três clubes no país contam
com o apoio de investidores, sendo o restante das equipes amadoras. Confira a
entrevista:
1-Guilherme, como
surgiu à proposta para atuar nas Ilhas Salomão?
A proposta surgiu quando o Juliano (treinador do Marist)
entrou em contato com o meu empresário falando que precisava de um atacante
para jogar a Champions League da Oceania. Em menos de uma semana acertamos
valores e tempo de contrato.
2-Quando chegou às
Ilhas Salomão, como era a realidade do futebol local?
Apresentação ao lado do treinador brasileiro Juliano Schmeling. |
Quando eu cheguei às Ilhas Salomão me deparei com um futebol muito veloz, muito
intenso e com pouca tática. O Juliano vem fazendo um trabalho extraordinário no
que diz respeito a obediência tática. As Ilhas Salomão era famosa por jogar
muito bem os primeiros 30 minutos de jogo, com uma intensidade muita alta.
Depois disso, a intensidade caia e os adversários saiam com a vitória. Nessa
Champions League de 2017, fomos muito bem taticamente e quase classificamos
para a semifinal.
3-Existe o apoio de
grandes patrocinadores no futebol local e com qual aporte financeiro estão
sendo realizadas as contratações internacionais?
O principal patrocinador do Marist é um homem chamado
Yoshi. Ele é o único representante da
Yamaha nas Ilhas Salomão, e está mudando não só o futebol local, mas também
está mudando o país. Tenho certeza que em alguns anos iremos ouvir falar do Marist
no Mundial de Clubes da Fifa.
Yoshi é um homem de um caráter incrível e que cumpriu tudo o
que foi prometido quando eu fui atuei no país.
4-Você foi um dos
artilheiros da Liga dos Campeões da Oceania. Como foi a experiência de disputar
a competição e como era a estrutura de clubes vizinhos como Taiti e Vanuatu?
Pois é, acabei a competição com 5 gols em 3 jogos, e fiquei
um gol atrás do artilheiro do campeonato. Foi uma experiência muito bacana
poder disputar a Champions League da Oceania. Os jogos do nosso grupo foram
realizados no Tahiti e pela primeira vez na história do Marist, nós conseguimos
ganhar o primeiro jogo na competição. Os clubes do Tahiti são muito organizados
e investem bastante na contratação de jogadores estrangeiros.
5-Por que o futebol
não é mais forte nas Ilhas Salomão, e os problemas sociais do país também
interferem no esporte?
O futebol é o esporte mais popular nas Ilhas Salomão e mesmo
assim sofre com falta de patrocínios e incentivo. Atualmente existem três
clubes ( incluindo o Marist) que contam com a ajuda de investidores. O resto
dos clubes tem um capital muito baixo para fazer contratações e pagar
jogadores. Os problemas sociais interferem sim no futebol, a falta de preparo e
de conhecimento da grande maioria de treinadores e gestores faz com que o
futebol no país não evolua.
6-O futebol no pais
está se reestruturando, a liga local foi remodelada em 2011. Fale um pouco do
projeto de seu ex-clube, a estrutura e a negociação para voltar a Oceania?
Apesar de ainda estarmos atrasados em relação aos grandes
centros do futebol, podemos ver uma grande evolução bem significativa em
relação há alguns anos atrás. Falando especialmente sobre o Marist, clube ao qual
eu joguei, a evolução nos últimos anos é nítida. É o único clube no país
que possui um Centro de Treinamento. É
um clube que paga os jogadores semanalmente e isso é até difícil de ver em
qualquer outro país. O Marist tem um projeto de ganhar a liga nacional
novamente e conquistar a vaga para a Champions League da Oceania. O clube já
manifestou o interesse para eu voltar, mas ainda estamos negociando alguns
detalhes do contrato. Acredito que até a metade de junho esteja tudo acertado e
eu possa voltar para o país.
7- Guilherme, nas
Ilhas Salomão há algum outro clube profissional? Qual é a média salarial dos
jogadores locais?
Além do Marist, existem mais dois clubes profissionais que
investem bastante para conseguir a vaga para a Champions. A média salarial dos
jogadores locais fica entre mil dólares e dois mil dólares.
8-Após a experiência
pelo país, adaptação ao futebol e conhecimento da cultura, você possui alguma
história curiosa para falar sobre o país?
Profissionalmente e pessoalmente foram experiências que eu
jamais tinha vivenciado antes. Eu sempre quis ir para um país em que eu pudesse
crescer não só como jogador, mas principalmente como pessoa. E acho que eu
consegui sair de lá com um crescimento pessoal muito bacana, fiz muitos amigos que me ensinaram muito na maneira de levar a
vida. O momento mais marcante para mim foi depois do último jogo da Champions
League da Oceania, quando nós empatamos
contra o As Tefana( Tahiti) pelo placar de
2-2, e com um jogador a menos em campo e eu tinha feito os dois gols. Os
jogadores no vestiário agradeceram a minha entrega em campo e falaram que nunca
tinham visto alguém se doar tanto dentro de campo que nem aquele jogo. Essas
manifestações de carinho e reconhecimento me marcaram muito e eu nunca vou
esquecer!
Reportagem: Ulisses
Carvalho
ulisses1995@outlook.com