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domingo, 11 de junho de 2017

Brasileiros ajudam na evolução do futebol nas Ilhas Salomão


Guedes durante comemoração de um gol marcado pelo Marist.

As Ilhas Salomão é um país pouco conhecido no cenário futebolístico. Localizada na Oceania, essa nação de apenas 583 mil habitantes vêm importando brasileiros para o desenvolvimento do futebol local. 

“Em menos de uma semana acertamos valores e tempo de contrato”, afirmou o atacante brasileiro Guilherme Guedes, com passagens por Internacional, Caxias, Montevideo Wanders, futebol de Omã e Malta, o gaúcho atuou no Marist, um dos maiores clubes das Ilhas Salomão, com três títulos nacionais conquistados.

A evolução no futebol local é um processo que está em andamento. O país conseguiu a independência do Reino Unido apenas em julho de 1978, mas ainda lida com alguns problemas, como a corrupção, deflorestamento e a vida fora da capital Honiara, onde a população sofre com a falta de emprego e outros problemas sociais. 

No ranking da Fifa, o país ocupa apenas a 180° colocação, e a liga local começou apenas em 2003. Um dos primeiros brasileiros a trabalhar no futebol do país foi o treinador Airton Andrioli, que comandou a seleção em meados de 2006 e 2009. Atualmente o treinador Juliano Schmeling vem realizando um grande trabalho no país, comandando as Ilhas Salomão na Copa do Mundo de Futsal e também o Marist, onde conquistou a primeira vitória da equipe na Liga dos Campeões da Oceania, além de levar três jogadores brasileiros para o clube, como Guilherme Guedes, Djair Veiga e André Morosini. 

Os três atletas atuaram no Marist durante a Liga dos Campeões da Oceania. A equipe acabou eliminada na fase de grupos, mas em apenas três jogos, o atacante gaúcho Guilherme Guedes marcou cinco gols e terminou como vice artilheiro da competição.
Em conversa com o blog, Guedes afirma que está em negociação com o Marist novamente, e também revelou que apenas três clubes no país contam com o apoio de investidores, sendo o restante das equipes amadoras. Confira a entrevista: 

1-Guilherme, como surgiu à proposta para atuar nas Ilhas Salomão?

A proposta surgiu quando o Juliano (treinador do Marist) entrou em contato com o meu empresário falando que precisava de um atacante para jogar a Champions League da Oceania. Em menos de uma semana acertamos valores e tempo de contrato. 

2-Quando chegou às Ilhas Salomão, como era a realidade do futebol local?

Apresentação ao lado do treinador brasileiro Juliano Schmeling.
Quando eu cheguei às Ilhas Salomão  me deparei com um futebol muito veloz, muito intenso e com pouca tática. O Juliano vem fazendo um trabalho extraordinário no que diz respeito a obediência tática. As Ilhas Salomão era famosa por jogar muito bem os primeiros 30 minutos de jogo, com uma intensidade muita alta. Depois disso, a intensidade caia e os adversários saiam com a vitória. Nessa Champions League de 2017, fomos muito bem taticamente e quase classificamos para a semifinal.

3-Existe o apoio de grandes patrocinadores no futebol local e com qual aporte financeiro estão sendo realizadas as contratações internacionais?

O principal patrocinador do Marist é um homem chamado Yoshi.  Ele é o único representante da Yamaha nas Ilhas Salomão, e está mudando não só o futebol local, mas também está mudando o país. Tenho certeza que em alguns anos iremos ouvir falar do Marist no Mundial de Clubes da Fifa.
Yoshi é um homem de um caráter incrível e que cumpriu tudo o que foi prometido quando eu fui atuei no país. 

4-Você foi um dos artilheiros da Liga dos Campeões da Oceania. Como foi a experiência de disputar a competição e como era a estrutura de clubes vizinhos como Taiti e Vanuatu?

Pois é, acabei a competição com 5 gols em 3 jogos, e fiquei um gol atrás do artilheiro do campeonato. Foi uma experiência muito bacana poder disputar a Champions League da Oceania. Os jogos do nosso grupo foram realizados no Tahiti e pela primeira vez na história do Marist, nós conseguimos ganhar o primeiro jogo na competição. Os clubes do Tahiti são muito organizados e investem bastante na contratação de jogadores estrangeiros.

5-Por que o futebol não é mais forte nas Ilhas Salomão, e os problemas sociais do país também interferem no esporte?

O futebol é o esporte mais popular nas Ilhas Salomão e mesmo assim sofre com falta de patrocínios e incentivo. Atualmente existem três clubes ( incluindo o Marist) que contam com a ajuda de investidores. O resto dos clubes tem um capital muito baixo para fazer contratações e pagar jogadores. Os problemas sociais interferem sim no futebol, a falta de preparo e de conhecimento da grande maioria de treinadores e gestores faz com que o futebol no país não evolua.

6-O futebol no pais está se reestruturando, a liga local foi remodelada em 2011. Fale um pouco do projeto de seu ex-clube, a estrutura e a negociação para voltar a Oceania?

Apesar de ainda estarmos atrasados em relação aos grandes centros do futebol, podemos ver uma grande evolução bem significativa em relação há alguns anos atrás. Falando especialmente sobre o Marist, clube ao qual eu joguei, a evolução nos últimos anos é nítida. É o único clube  no país que possui um Centro de Treinamento.  É um clube que paga os jogadores semanalmente e isso é até difícil de ver em qualquer outro país. O Marist tem um projeto de ganhar a liga nacional novamente e conquistar a vaga para a Champions League da Oceania. O clube já manifestou o interesse para eu voltar, mas ainda estamos negociando alguns detalhes do contrato. Acredito que até a metade de junho esteja tudo acertado e eu possa voltar para o país.

7- Guilherme, nas Ilhas Salomão há algum outro clube profissional? Qual é a média salarial dos jogadores locais?

Além do Marist, existem mais dois clubes profissionais que investem bastante para conseguir a vaga para a Champions. A média salarial dos jogadores locais fica entre mil dólares e dois mil dólares.

8-Após a experiência pelo país, adaptação ao futebol e conhecimento da cultura, você possui alguma história curiosa para falar sobre o país?

Profissionalmente e pessoalmente foram experiências que eu jamais tinha vivenciado antes. Eu sempre quis ir para um país em que eu pudesse crescer não só como jogador, mas principalmente como pessoa. E acho que eu consegui sair de lá com um crescimento pessoal muito bacana, fiz muitos amigos  que me ensinaram muito na maneira de levar a vida. O momento mais marcante para mim foi depois do último jogo da Champions League da Oceania,  quando nós empatamos contra o As Tefana( Tahiti) pelo placar de  2-2, e com um jogador a menos em campo e eu tinha feito os dois gols. Os jogadores no vestiário agradeceram a minha entrega em campo e falaram que nunca tinham visto alguém se doar tanto dentro de campo que nem aquele jogo. Essas manifestações de carinho e reconhecimento me marcaram muito e eu nunca vou esquecer! 


Reportagem: Ulisses Carvalho
ulisses1995@outlook.com